quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

ONTEM UTOPIA, HOJE...


Quando estudava no colégio, isso faz bastante tempo, século XX, eu lia e relia um texto que não consigo lembrar o nome do autor, mas lembro bem do que ele tratava. Tratava da facilidade com que no próximo século iríamos conseguir o corpo perfeito. Bastaria entrar em um supermercado de órgãos humanos, que já existiriam aos montes, e comprar.Estaria tudo ali, nas prateleiras, era só pegar e pagar. Nariz, boca pernas e tudo que você pode imaginar.

Eu ficava imaginando, eu que tinha um nariz não muito popular, chegando no supermercado e trocando meu grande nariz por um belo nariz arrebitado.Ou minhas pernas curtas por belas longas pernas, meu cabelo liso, na época, por cabelos crespos. Eu viajava com a história, mas sabia que isso era apenas sonho, utopia.

Era uma crônica fictícia, mas que me faz pensar: como os escritores conseguem adivinhar o futuro?Pois hoje,já existem,aos montes,clínicas de estética que basta pagar e você poderá modificar qualquer parte do corpo, que desejar.Sem ética, sem profissionalismo, é só pedir e terá.

Não que não existam clínicas sérias, também existem, é claro. Mas é tão fácil se deixar levar pelo modismo da estética que hoje guia nossos caminhos. E não venham me dizer que preocupação com a saúde,pois não é.Pode até ser, não sei, preocupação com ser aceito pela sociedade.


E,observando com calma nosso cotidiano, com calma porque estou de férias, descubro que nós somos culpados por esta expansão do comércio do corpo, e da mente, pois:

Chegamos a ponto de assistir na televisão,em um programa de realit show, canal aberto, meninas lindas que falam, em tom de exibicionismo, quantos litros de silicone colocaram em seus seios, que não tinham nenhum defeito pois, não foram mutilados e, ficamos calados.

Assistimos jovens malhados, freqüentadores de academia e cursos de artes marciais, com barriguinhas tanquinho, tirarem a camisa e outras coisinhas a mais, exibindo seus belos corpos para conseguirem ficar rico em pouco tempo, não estando preocupados em como vai ser o reconhecimento público ou a que atitudes ele vai estar associado depois de acabar o programa. Sim depois...a vida continua e algo dito ou feito pode prejudicá-lo, e muito.E nós, damos audiencia para este programa.

Quando fazemos propaganda contra o álcool, orientamos nossos filhos a não beberem, mas aceitamos passivamente a entrega a estes jovens, que participam do realit show, de tonelada de bebidas para que se embriaguem na frente das câmeras de televisão e dêem o show, e até achamos graça,junto com nossos filhos. Filhos? É, aqueles que a bem pouco tempo atrás dávamos recomendações sobre os efeitos da bebida alcoólica no organismo.

Ficamos inertes, parados, achando tudo muito divertido, torcendo para que naquele dia tenham senas de sexo explícito, de brigas, fofocas,sem lembrar que estes jovens foram educados por nós e que este é o modelo de sociedade que está sendo imposto pela mídia a nossos filhos.

Estes jovens não lembram e também não são lembrados dos efeitos que irão causar suas atitudes, sua fala.Pois, a partir do momento em que eles fazem parte de um grande canal de comunicação, tornam-se ídolos e servem de exemplo, positivo ou negativo, a grande parte da juventude que não está acostumada a questionar, principalmente valores.

Eles deveriam ser conscientizados, mas isso não dá ibope,que depois de acabar o programa a vida continua, e que a vida não é como um game que quando se erra é só apertar a tecla delete e começar de novo.Que só se tem uma chance de viver e temos que aproveitar sim, mas com dignidade.

E daí eu me pergunto: Será que estamos educando certo?Estamos educando nossos jovens para serem perfeitos por fora e por dentro,será que não são pães bolorentos?

Um comentário:

Leila Andrade disse...

Ana, estou aqui curtindo suas palavras, lembranças e crônicas. Estou um pouco afastada do Focando, mas você pode aparecer no Palavra e Destino e na Diversos Afins(www.diversos-afins.blogspot.com)
Está convidada!!
:)
Beijo