Assistindo ao jornal em minha casa, casa coberta de telhas daquelas do tipo Eternit, sem ventilador ou similares vejo a cena: banhistas se refrescando no mar, que fica aqui perto, se for até lá de carro, e penso: isso é que é vida.
Não tenho inveja, não. Eles trabalharam também para conseguir este descanso. Eu é que faço parte da grande maioria da população brasileira, que trabalha para sobrevier não para viver.
Trabalho, trabalho e no final do mês tenho que contar as migalhas para ver se sobra para ir ao cinema e cortar o cabelo.
Trabalho sonhando que dias melhores virão, como já dizia o poeta.
Nesta hora escuto o jornalista dizer que devemos planejar nossos gastos, então lá fui eu. Peguei uma agenda e coloquei a conta de luz, água, telefone, IPTU, Taxa de lixo, comida. Sabem o que sobrou? Nada!
Vamos então fazer cortes. Cortar a luz, a água ou o telefone.Decidi, vou tirar o telefone de casa. Mas, morando sozinha! E se a noite eu precisar chamar alguém?É, não dá.
Luz e água, nem pensar.Então só resta diminuir o gasto com a comida, estou precisando fazer uma dieta mesmo.
Abri a dispensa, um pequeno armário, e vi que já estou de dieta faz tempo.
Resolvi voltar a assistir o jornal e começo a ficar preocupada com minha saúde, pois, agora o jornal fala do sistema único de saúde, no qual eu sou conveniada. Se é que se pode chamar de convenio.
Imagino-me morrendo, sentada naquelas cadeiras duras, daquele corredor que os hospitais teimam em chamar de sala de espera. Espera da morte.
E o repórter diz que ainda falta médico para atender, que não tem leitos para os doentes e falta higiene no local.
Meu Deus! Não posso ficar doente, é melhor eu descansar.
Desligo a televisão rápido e tento dormir.
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